Tenho contato com muitos executivos e empresários que são extremamente assertivos. Fazem e dizem com muita liberdade intelectual. Certamente essa assertividade faz com que sejam bem sucedidos, mas quando o assunto se refere a férias, uma estranha transformação ocorre em suas personalidades.
São obrigados pelas famílias ou outras circunstâncias a tirarem férias (“Noblesse Oblige“), e após costumeira resistência (explícita ou velada) acabam concordando, mas o período os incomoda profundamente, pois ao final sentem-se “culpados” por não estarem à frente de seus negócios.
Sabem que o período de descanso é útil, é saudável, mas mesmo assim há grande desconforto, pois tratam o período como um castigo.
Alegam que desejam o período de férias, mas alegam que não podem gozá-las. Disso resulta grande conflito interno.
Após conversar com vários desses executivos e empresários, percebo que há um grande sentimento de culpa por estarem em férias, enquanto “há tanto serviço necessitando de mim…”, “eu gostaria de me divertir, de me desligar, mas tenho minhas responsabilidades…”, e por ai vão as lamúrias.
Vejo nesse aspecto uma grande confusão que tem levado essas pessoas a não viverem plenamente. Enquanto estão em férias nem estão plenamente em férias (pois suas mentes vagueiam pelas atividades que poderiam estar realizado, ou preocupados como outros as estão desenvolvendo, etc.) e, obviamente, também não estão em suas empresas e escritórios. Logo, não estão em lugar algum plenamente, vivendo esse período em um grande vácuo.
Mas como pessoas inteligentes e normalmente bem sucedidas não conseguem resolver esse dilema que não os fazem felizes? Penso que isso ocorre porque confundem três conceitos: “quero”, “tenho de” e “eu deveria”.
Eu explico:
O conceito “quero” normalmente é simples e facilmente identificável: “Quero ganhar 1 milhão em cinco anos”, ou “quero ser o presidente da empresa” ou “quero comprar mais empresas” ou “quero aprender a surfar nas férias” ou qualquer outra coisa perceptível.
O conceito “tenho que” é ligado diretamente ao que a pessoa escolheu para o “quero”: Se quero ganhar 1 milhão, tenho que obter um emprego – e me manter nele – com um salário de “X” por mês. Se quero ser o presidente da empresa, tenho que aprender todas as áreas de atuação da empresa. Se quero aprender a surfar nas férias, tenho que cursar um curso prático. E assim segue: Para cada “quero”, preciso verificar quais os “tenho que” que deverei alcançar.
Quando verificamos claramente os “tenho que” realmente necessários, percebemos que há espaço para o descanso, as férias e o ócio.
Então, onde está o problema? Creio que está no conceito de “eu deveria”. Esse conceito normalmente está fora do conceito de “tenho que”.
Tenho que trabalhar para ganhar 1 milhão. No conceito “tenho que” isso não é preciso: “Eu deveria trabalhar porque todos devem ser produtivos”. “Eu deveria estar ciente e presente em tudo que ocorre na empresa senão as coisas não ocorrem como deveriam”. “Eu deveria estar atento a tudo porque é assim que as coisas funcionam”. Todos conhecem essas frases.
São justificativas que não contribuem diretamente a que cada um alcance seus verdadeiros objetivos na vida.
Com essa observação, fiquei mais atento: Quando ouço a mim mesmo, ou alguém me dizendo “deveria”, fico atento para não cair nessa armadilha.