Sempre ouvimos que a persistência é uma virtude. “Aqueles que iniciam algo e não vão até o final são fracos e não merecem nosso respeito.”
Somos disciplinados desde crianças a entender que nossa obrigação moral é concluir tudo o que começamos. O problema é que nem sempre o que começamos merece ser terminado. Às vezes somente percebemos isso depois do início, ou então as circunstâncias mudaram e o que iniciamos já não faz mais sentido. Mas nos sentimos obrigados a continuar a tarefa inútil ou desagradável até o final, sob pena de sermos considerados ‘pecadores’.
Geralmente confundimos persistência com perseverança. Somos perseverantes quando seguimos em direção aos nossos objetivos superando os obstáculos com que nos deparamos, mas somos persistentes quando teimamos em prosseguir quando percebemos que não tem mais sentido continuar, mas continuamos.
[pullquote]Geralmente confundimos persistência com perseverança[/pullquote]Parece engraçado, mas muitas vezes percebemos que seria melhor pararmos, mas continuamos para não perder o esforço que já dedicamos. Começamos a ver um filme e percebemos que é ruim, poderíamos utilizar o tempo restante do filme para tentar ver outro filme, fazer outra coisa ou não fazer nada (hipótese sempre viável), mas continuamos, afinal “não vou perder o tempo que já dediquei, portanto vou continuar”. Ou seja, perderá mais tempo ainda em algo desagradável porque seria vergonhoso abandonar.
Normalmente essas atividades são passageiras. Iniciamos algo que não sabíamos ser ruins ou inúteis. Percebemos depois que iniciamos e achamos vergonhoso parar. Seguimos em frente no que é chato ou inútil, mas uma hora isso acaba e ficamos aliviados com a chegada ao final, mesmo sem satisfação – ou utilidade – pelo que fizemos.
Entretanto, algumas atividades são eternas. Amigos indesejáveis, cônjuges que não mais amamos, trabalhos que detestamos. Poderíamos (e deveríamos!) nos livrar deles, mas não conseguimos.
Muitas vezes nem reavaliamos nossos objetivos. Vivemos por inércia. Nem cogitamos mudar o que está ruim. Os hedonistas, que afirmam que o ser humano sempre procura aumentar o seu prazer, têm dificuldade em explicar o motivo dessa inércia psicológica, mas ela é muito comum e muitas vezes duram uma vida inteira.
Vejo pessoas se aposentando depois de uma vida repleta de insatisfação com suas profissões ou empregos. Pergunto o motivo de não terem tentado mudar. Muitas nem sabem por que ‘persistiram’ na insatisfação. “Eu tinha que trabalhar e isso é o que consegui”. Será?
Outras vezes observo que a falta de motivação para encerrar uma situação ruim decorre da ideia que as alternativas seriam até piores: “Se eu saísse do emprego poderia passar fome!”. Mas normalmente as pessoas utilizam esse tipo de argumento para justificar a ‘persistência eterna’. Sentem-se obrigados a continuar.
Vale aqui a citação de um trecho da música Até o Fim, de Chico Buarque (veja o vídeo abaixo):
“Eu já nem lembro pronde mesmo que eu vou, mas vou até o fim”
É obvio que não devemos largar tudo e ir procurar os prazeres da vida de forma inconsequente. Há lugar para sermos felizes com planejamento e preparação. Só que não precisa demorar uma vida inteira para começar a mudança.
O primeiro passo pode ser dado hoje. O primeiro passo pode ser dado agora.
Boa sorte!